Recentemente tive um turno de tarde dificílimo! Serviço a abarrotar,clientes a virem do bloco em rajada, clientes que não ouviam os conselhos de enfermagem e sofriam as consequências físicas da suas escolhas mas e que só geravam maior necessidade de cuidados e descompensações noutros que geravam um constante replaneamento de cuidados a um ritmo alucinante. No meio desta confusão havia uma Sra. bastante apelativa que se encontrava internada para realizar Gamma Knife ( o "tratamento Gamma Knife, também conhecido como radiocirurgia estereotáxica, é um método não invasivo para tratar lesões no cérebro, cabeça e pescoço. Consiste na aplicação única de uma alta dose de radiação a pequenos volumes de tecidos em localizações críticas. Esta aplicação é feita sem qualquer incisão na pele ou caixa craniana.").
Durante todo o turno procurou-me e massacrou-me com perguntas, receios, períodos de labilidade emocional. Daquelas pessoas que mesmo acompanhadas de familiares quando mais as tranquilizamos ou estamos presentes, mais pedem a nossa presença. Estava constantemente a referir dores, mal estar e angústia elevadas que originou um quadro hipertensivo e hiperglicémico porque ainda foi ingerir alimentos calóricos do domicílio e fumar às escondidas (era diabética mas mesmo sendo medicada no domicílio não sabia que o era). Ou seja, a este nível mais emocional, ambiental e farmacológico e interdisciplinar com o serviço de Gamma Knife tive um mundo de intervenções. Pelo meio ainda arranjou maneira de exteriorizar a via e partir um sistema de soro porque não via bem e verbalizar receios "ridículos" como o de que os srs. da operação fossem embora e ela não fosse intervencionada naquela tarde como estava programada v duvidando da minha palavra e intervenções vezes e vezes sem conta. E ainda robou-me a máquina de BM o que me colocou a mim e a mais dois profissionais a procurá-la por todo o serviço!
Além disto, tinha receios de criança e quando inquiri a família fiquei a saber que tinha antecedentes a nível de saúde mental. Apesar de tudo, parte das minhas intervenções foram bem sucedidas e no fim do dia ao deitar-se disse-me e apercebi-me que a intervenção e o internamento foram menos pesadas emocionalmente devido à minha presença e cuidados. mas foi daqueles utentes que me transformou um inferno de turno num muito pior. Mas apesar de tudo, de ter sido bastante duro até para prestar cuidados a outros clientes e ter-me feito chegar a casa duas horas atrasado, dei o meu melhor e estive o máximo presente quando outros não lhe deram tanta atenção. Além dos antecedentes da Sra, apercebi-me que era bastante humilde, o primeiro internamento, de uma zona rural e a sensação de ter um quadro esterotáxico na cabeça foi emocionalmente insuportável para alguém que não era obviamente emocionalmente estável por avaliação presencial e segundo a família.
Por vezes é impossível conseguir cuidar verdadeiramente de pessoas tão apelativas e com necessidades específicas devido ao excesso de trabalho e falta de tempo. A rotina, o cansaço, a pressão e outros factores pessoais externos ou internos tendem durante toda a vida laboral a esquecermo-nos ou a impossibilitar-nos de observar a pessoa e estabelecer com ela uma verdadeira relação terapêutica. Nunca sabemos quando uma pessoa está num mau momento pessoal, familiar ou de qualquer outra natureza e muitas vezes temos tendência a não ter paciência ou a abertura necessária. Todos temos dias maus e em contextos dificílimos por vezes é impossível ter tempo para prestar cuidados de qualidade.
Contudo, quando conseguimos fazer a diferença como no caso desta Sra. é realizante. Vale muito ou tudo do que passamos, ou pelo menos dá-nos algo de muito positivo que sentir, pensar e guardar ao fim do dia. Com experiências várias durante dias, contactando e aliviando o sofrimento do Outro, vamos crescendo e aprendendo a perspectivar a vida, os pequenos aspectos da mesma, o Outro e a interacção com os mesmo de maneira diferente.
Durante todo o turno procurou-me e massacrou-me com perguntas, receios, períodos de labilidade emocional. Daquelas pessoas que mesmo acompanhadas de familiares quando mais as tranquilizamos ou estamos presentes, mais pedem a nossa presença. Estava constantemente a referir dores, mal estar e angústia elevadas que originou um quadro hipertensivo e hiperglicémico porque ainda foi ingerir alimentos calóricos do domicílio e fumar às escondidas (era diabética mas mesmo sendo medicada no domicílio não sabia que o era). Ou seja, a este nível mais emocional, ambiental e farmacológico e interdisciplinar com o serviço de Gamma Knife tive um mundo de intervenções. Pelo meio ainda arranjou maneira de exteriorizar a via e partir um sistema de soro porque não via bem e verbalizar receios "ridículos" como o de que os srs. da operação fossem embora e ela não fosse intervencionada naquela tarde como estava programada v duvidando da minha palavra e intervenções vezes e vezes sem conta. E ainda robou-me a máquina de BM o que me colocou a mim e a mais dois profissionais a procurá-la por todo o serviço!
Além disto, tinha receios de criança e quando inquiri a família fiquei a saber que tinha antecedentes a nível de saúde mental. Apesar de tudo, parte das minhas intervenções foram bem sucedidas e no fim do dia ao deitar-se disse-me e apercebi-me que a intervenção e o internamento foram menos pesadas emocionalmente devido à minha presença e cuidados. mas foi daqueles utentes que me transformou um inferno de turno num muito pior. Mas apesar de tudo, de ter sido bastante duro até para prestar cuidados a outros clientes e ter-me feito chegar a casa duas horas atrasado, dei o meu melhor e estive o máximo presente quando outros não lhe deram tanta atenção. Além dos antecedentes da Sra, apercebi-me que era bastante humilde, o primeiro internamento, de uma zona rural e a sensação de ter um quadro esterotáxico na cabeça foi emocionalmente insuportável para alguém que não era obviamente emocionalmente estável por avaliação presencial e segundo a família.
Por vezes é impossível conseguir cuidar verdadeiramente de pessoas tão apelativas e com necessidades específicas devido ao excesso de trabalho e falta de tempo. A rotina, o cansaço, a pressão e outros factores pessoais externos ou internos tendem durante toda a vida laboral a esquecermo-nos ou a impossibilitar-nos de observar a pessoa e estabelecer com ela uma verdadeira relação terapêutica. Nunca sabemos quando uma pessoa está num mau momento pessoal, familiar ou de qualquer outra natureza e muitas vezes temos tendência a não ter paciência ou a abertura necessária. Todos temos dias maus e em contextos dificílimos por vezes é impossível ter tempo para prestar cuidados de qualidade.
Contudo, quando conseguimos fazer a diferença como no caso desta Sra. é realizante. Vale muito ou tudo do que passamos, ou pelo menos dá-nos algo de muito positivo que sentir, pensar e guardar ao fim do dia. Com experiências várias durante dias, contactando e aliviando o sofrimento do Outro, vamos crescendo e aprendendo a perspectivar a vida, os pequenos aspectos da mesma, o Outro e a interacção com os mesmo de maneira diferente.
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