“Bendito preservativo que tira a Sida do mundo. São estes realmente os que dizem que nos amam? Que não te enganem. Que não te dêem a hóstia. O preservativo é a melhor arma que existe contra a maior epidemia da humanidade.”
Citando que mais de 25 milhões de pessoas já morreram vítimas de HIV é referido ainda:
"A Igreja diz-nos que os preservativos, em vez de combater a doença, ajudam a expandi-la."
Esta situação gerou polémica com as organizações católicas e a própria Igreja. Blasfémia, ataque aos cristãos, propaganda e deturpação da mensagem cristã foram alguns dos argumentos utilizados na resposta.Segundo o Jornal I, “o porta-voz das Juventudes Socialistas, Juan Carlos Ruiz, já veio dizer que que "a Igreja Católica insiste em confundir os cidadãos" e que "a campanha apenas pretende reafirmar o compromisso com a luta contra a SIDA".
A única excepção fora de um ambiente laboral, a nível de sociedade, é o programa implementado desde 1986 no Uganda, que defende a monogamia, fidelidade, abstinência, o respeito e o amor pelo parceiro como elementos base e imprescindíveis para o controlo do HIV. A população foi aderindo e quase 20 anos depois, o Uganda é o único caso de sucesso global: de uma taxa de infecção de 20% no princípio dos anos 90, em 2002 tinha 6%! O oposto verifica-se na África do Sul, que seguindo as políticas de saúde do grosso dos países mundiais, apresenta pelo menos 5,3 milhões de infectados, cerca de 16 a 18% da população.
Deste modo, a única prova empiricamente eficaz a um nível global é o que a Igreja defende, assim como provavelmente também outras religiões já que são ideais e valores comuns a várias culturas.
O preservativo tem assim de ser usado para uma vivência da sexualidade com responsabilidade e não como base de uma vivência de promiscuidade. Não quero com isto dizer que uma pessoa não tem direito a ser promiscua em maior ou menor grau na vivência da sua sexualidade, tem todo o direito a procurar ser feliz segundo as suas necessidades e valores e a vivência saudável e segura da mesma é essencial à saúde e bem-estar do indivíduo, afectando todas as esferas do mesmo e trazendo em último caso benefícios para a sociedade já que a saúde e o bem-estar aumentam a produtividade.
Contudo, as organizações com responsabilidade social,política e de saúde não podem e não devem defender a promiscuidade como base da relação e o preservativo como a solução segura. É uma realidade disseminada que do ponto de vista científico e ético é mentira e que como cidadão e enfermeiro me preocupa. Vê-la a ser propagandeada em África onde a corrupção política e os lobbies farmacêuticos (inclusive o relacionado com os anti-retrovíricos; o sucesso do Uganda é frequentemente não mencionado em bastantes estudos e relatórios internacionais) é corrente é uma coisa, em países desenvolvidos é outra. Se não aparecer entretanto uma vacina ou tratamento mais eficaz, a metodologia actual de prevenção da SIDA nunca terá resultados excelentes em larga escala e muito menos será a solução.
Por outro lado é necessário ter consciência e reflectir sobre as causas da reacção que suscita as mensagens da Igreja católica sobre a prevenção do VIH e o uso do preservativo. Como podemos facilmente constatar, o preservativo tornou-se um “símbolo de liberdade e –juntamente com a contracepção- emancipação feminina, por isso quem questiona a ortodoxia representada no uso do preservativo é acusado de ser contra estas causas” (The Washington Post, 2009). A isto junto a simbologia que tem o preservativo junto dos adolescentes, já que ao permitir ou estar ligado ao acto sexual, é símbolo do crescimento pessoal e aprovação social. Para esta simbologia conta também o próprio paradigma actual nas ciências da saúde, relevando cada vez mais a sexualidade e a sua vertente como uma dimensão essencial à saúde e bem-estar do indivíduo e que se reflecte na intervenção e mensagem distribuída para a população.
Tal paradigma, do qual sou defensor, reflecte-se na educação a nível das instituições de saúde, escola (implemento da educação sexual nas escolas) e a nível dos media. No entanto, este último facilmente promove o culto do corpo nos mais jovens, do divertimento nocturno e por vezes do consumo do álcool. Todos estes factores fomentam a propagação e a simbolização do preservativo como algo imprescindível para a vivência da sexualidade, especialmente nos mais jovens, o que torna frequentemente para estes as críticas por parte da Igreja católica completamente descabidas. Promove ainda que esta instituição seja vista como retrógrada e ultrapassada, piorando muitas vezes no caso de pessoas homossexuais, lésbicas e anarquistas cujos alguns ideais vão contra a mensagem padrão da Igreja. Por último, em alguns contextos histórico-sociais, a Igreja é vista como símbolo de antigos regimes ditatoriais. Todo este universo influencia uma defesa muitas vezes inconsciente da crítica às políticas contra o VIH e uso do preservativo.
É importante ter noção de qual a verdadeira mensagem da Igreja, referida nos parágrafos anteriores, e ter consciência de que actualmente os grupos de risco - homossexuais, drogados, prostitutas,etc- estão hoje em dia e há muito tempo com melhores índices a nível epidemiológico que os heterossexuais, o que remete para um reflexão mais global a nível de cada sociedade e não apenas numa única causa que influencia directamente a propagação do VIH.
A Igreja é, como no anúncio, frequentemente criticada e acusada de ajudar a disseminar o vírus com a sua ideologia. Estatisticamente, podemos comprovar que em África, onde o flagelo é maior, a Igreja só tem influência directa em cerca de 15% da população e é onde se consegue melhores resultados. Não através do uso da força mas apenas do aconselhamento e acompanhamento e do seguimento da população dos ideais da sua doutrina. Além disso assiste directamente 1/4 do total das vítimas deste flagelo, e destas uma parte considerável só tem a assistência de instituições da igreja. Por tudo o referido anteriormente, concluímos que ataques cegos a certas mensagens católicas que estão cientificamente correctas é pura ignorância.
Por outro lado, as políticas de saúde deviam ser mais completas na informação e no modo como é transmitida. Defendo o equilíbrio não os extremos (uma privação da liberdade e da vivência sexual da pessoa ou o incentivo à sua total liberalização com falhas e ocultações graves de informação). Pois, infelizmente porque é um extremo, o último acontece há muito.
Deixo-vos com duas mensagens:
1- “ O uso dos preservativos acaba estimulando, queiramos ou não, uma prática desenfreada do sexo”. (João Paulo II)
Declaração clássica da igreja católica pensamos todos.
2- “São necessárias campanhas contra práticas sexuais contrárias à natureza biológica do homem. E, sobretudo, há que educar a juventude contra o risco da promiscuidade e o vagabundeio sexual.” (Luc Montagnier, 1989)
Poderia ser um padre, como há muitas mensagens semelhantes. Mas é o médico chefe da equipa que descobriu o retrovírus do VIH e nobel da medicina em 2008. E se a primeira frase pode estar algo ultrapassada devido às visões actuais da sociedade e ao sucesso epidemiológico em várias das minorias visadas, a segunda frase nunca esteve mais actual.
Ps- exemplos de links interessantes:
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